Este Grupo de Trabalho abre espaço para o debate de etnografias sobre conflitos e seus contextos no século XXI. Trata-se, pois, da proposta de reunir diferentes perspectivas e abordagens sobre uma temática clássica da Antropologia, onde diferentes autores tomaram os conflitos sociais como foco de suas observações e análises, na busca por compreender o papel desempenhado por estes fenômenos, sempre presentes de modo latente ou manifesto, nas dinâmicas da vida social. As etnografias de conflitos nos parecem relevantes por conduzir a uma reflexão sobre os arranjos e rearranjos, as continuidades e as rupturas, assim como sobre táticas, estratégias, moralidades e representações que são dispostas ao longo das disputas, revelando, sempre, questões para além daquelas diretamente envolvidas nos processos em questão. Desse modo, convidamos pesquisadoras e pesquisadores que estejam debruçados sobre conflitos e que os tomem como questões centrais em suas composições etnográficas. As arenas podem ser as mais variadas, incluindo disputas relacionadas ao sistema de justiça, as disputas morais da vida política, os conflitos urbanos ou os fenômenos derivados do colapso climático. Contemplamos, nessa miríade de conflitos, também a disputa em torno da posse da terra e o envolvimento de grandes empreendimentos agropecuários, madeireiros ou a pura e simples grilagem com fins de especulação imobiliária que acabaram por tornar necessárias as perícias antropológicas como prática administrativa de órgãos governamentais, do Ministério Público Federal e de instâncias do judiciário para conferir direitos. Nesse contexto, surgem como parte dos conflitos também os ataques dirigidos aos relatórios antropológicos de identificação territorial de povos indígenas, remanescentes de quilombos e situações sociais de impacto ambiental sobre populações tradicionais pelos grandes projetos desenvolvimentistas. Em torno dos conflitos, suas representações e implicações – questões que constituem nossa preocupação –, buscamos reunir diferentes produções etnográficas para constituir um ambiente de reflexão de diálogo, trocas e reflexões.